sábado, 1 de março de 2008

Amores e desamores


Ontem, como disse, comemorei o centenário com a minha direcção de turma. Os miúdos levaram sumos e bolos e batatas fritas e bolachas e o que se lembraram. Eu levei Doritos e uma garrafa de água. Os Doritos andaram, mas a água, como é óbvio, veio comigo para casa.
A meio da comezaina, da conversa e do jogo de cartas, lá dei por uma pessoa que eu não conhecia no canto da sala, rodeada por alguns dos meus alunos. Aproximei-me para ver quem era aquele “corpo estranho” na minha sala… Ao aproximar-me, verifiquei que afinal era a F, minha aluna. Estava, no entanto, inchada de chorar, motivo pelo qual não a reconheci imediatamente. Parecia que os olhos se lhe tinham afundado na cara, e que as maçãs do rosto se tinham tornado mais salientes. Primeira constatação: caramba, as pessoas ficam mesmo feias quando choram!

Sentei-me em cima da mesa em frente ao “grupo de apoio” e perguntei logo o que tinha acontecido. A F não atinou a responder-me. Aliás, acho que nem me ouviu, porque estava com os headphones na cabeça e as lágrimas corriam-lhe em bico. Mas a amiga lá me explicou que “a F gosta um bocadinho do ex-namorado da V (nota importante: a V e a F são colegas de turma). Quando a V soube que a F o tinha comido, deixou o namorado novo e veio a correr pró velho! Isso mete nervos, senhora professora!” Durante segundos, embatuquei naquela parte do “ter comido”. Mas rapidamente passei à frente, porque me apercebi de que o busílis da questão, naquele momento, estava longe de ser a precocidade da F…

“Oh, F! Que cena triste... Mas, olha, tens que ser superior a essas coisas!”
“E se ela abre a boca, rebento-a toda!”- deduzi que a F se referisse à V.
“É claro que ela não vai dizer nada. Não a vês ali tão caladinha? ”
O J, membro do já referido grupo de apoio da F, sugere, lá do alto dos seus mui experientes catorze anos:
“Sabes o que é que tens que fazer, F? É dar ao desprezo! Dá ao desprezo que ele vem logo atrás de ti. É assim que eu faço. Nunca vou atrás de rapariga nenhuma e elas andam atrás de mim que nem doidas.”
Tive que suprimir um sorriso (de facto, uma gargalhada), enquanto paria a minha segunda constatação: as coisas que eu aprendo com estes miúdos! São verdadeiros mananciais de informação… Com 14 anos, note-se!

Bom, a F não ficou logo de feijão arreganhado, mas sei que segunda-feira já vai estar como nova. Se há uma coisa que os meus miúdos têm é uma capacidade de regeneração invejável. Segunda-feira o tal rapaz já será apenas uma vaga lembrança…

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