terça-feira, 11 de março de 2008

Há tanto tempo...

Vi agora a mãe de um aluno meu no Modelo.
-Oh, sra. professora! Está boa? Há tanto tempo que não a via...
E eu, de sorriso bem amarelo, a pensar:
-Ora... Aí está!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Direcção de turma


Sou directora de turma. No entanto, não faço milagres.
Ser directora de turma não é mau quando se tem condições para se trabalhar. Quando não as há, é um verdadeiro pesadelo. O que acontece é que os directores de turma têm 90 minutos por semana para tratar de todos os assuntos referentes à sua direcção de turma.


Vamos por partes. 45 desses minutos são dedicados ao atendimento aos encarregados de educação. Escusado será dizer que os encarregados de educação que me visitam no meu horário de atendimento são sempre os mesmos, com pouquíssimas excepções. E geralmente, são os encarregados de educação que menos “precisam” de vir à escola... Ou seja, aqueles que eu estou mesmo mortinha para apanhar a jeito, nunca lhes ponho a vista em cima, porque não aparecem lá, não telefonam, não mandam recado, não respondem aos recados, não nada. Os pais dos “casos bicudos” tem uma alergia à escola, que até fazem lembrar os filhos… Quando, finalmente, à custa de lhes inundar a caixa de correio com cartas a informar de reuniões, faltas e o que não, e muitos telefonemas depois, consigo arrastar um deles à escola para tomar conhecimento de um dos milhentos planos que temos para o seu querubim, o(a) senhor(a) decide recostar-se na cadeira e falar de como era a escola no seu tempo e de como hoje em dia os miúdos já não aprendem um décimo do que se aprendia há 30 ou 40 anos atrás… Isto não seria mau, se eu não tivesse 45 minutos para atender TODOS os meus encarregados de educação. Resultado, a minha hora de almoço vai à vida… E ainda dizem que os professores não trabalham…


A propósito, estava eu hoje na sala de directores de turma quando liga um papá para falar com o director de turma. Atendi eu o telefone.
- Boa tarde, era para falar com o professor Laurindo.
-Lamento, mas ele acabou de sair.
-Mas (todo exaltado) ainda não são 3 horas, o atendimento ainda não acabou. Ele ainda devia estar aí.
- O atendimento terminou às 2:45h e faltam… 3 minutos para as 3h.
- Ah… Então, obrigada.
O tom árido da sua voz deixou claro que “estes professores nem para esperarem um quarto de hora que uma pessoa telefone… Porque uma pessoa trabalha!” Coincidência, nós, professores, também!



Os outros 45 minutos são dedicados apenas a registo de faltas, justificação de faltas, anexação das faltas no dossier de turma, elaboração e emissão de correspondência aos encarregados de educação, telefonemas aos encarregados de educação, elaboração de uma enormidade de planos e relatórios, etc. Depois disto tudo, espero que fique claro que o “apenas” usado acima é absolutamente irónico. Pois, como raios é suposto que eu consiga fazer tudo isso em apenas 45 minutos?


Pois é, i’m only human


sábado, 1 de março de 2008

Amores e desamores


Ontem, como disse, comemorei o centenário com a minha direcção de turma. Os miúdos levaram sumos e bolos e batatas fritas e bolachas e o que se lembraram. Eu levei Doritos e uma garrafa de água. Os Doritos andaram, mas a água, como é óbvio, veio comigo para casa.
A meio da comezaina, da conversa e do jogo de cartas, lá dei por uma pessoa que eu não conhecia no canto da sala, rodeada por alguns dos meus alunos. Aproximei-me para ver quem era aquele “corpo estranho” na minha sala… Ao aproximar-me, verifiquei que afinal era a F, minha aluna. Estava, no entanto, inchada de chorar, motivo pelo qual não a reconheci imediatamente. Parecia que os olhos se lhe tinham afundado na cara, e que as maçãs do rosto se tinham tornado mais salientes. Primeira constatação: caramba, as pessoas ficam mesmo feias quando choram!

Sentei-me em cima da mesa em frente ao “grupo de apoio” e perguntei logo o que tinha acontecido. A F não atinou a responder-me. Aliás, acho que nem me ouviu, porque estava com os headphones na cabeça e as lágrimas corriam-lhe em bico. Mas a amiga lá me explicou que “a F gosta um bocadinho do ex-namorado da V (nota importante: a V e a F são colegas de turma). Quando a V soube que a F o tinha comido, deixou o namorado novo e veio a correr pró velho! Isso mete nervos, senhora professora!” Durante segundos, embatuquei naquela parte do “ter comido”. Mas rapidamente passei à frente, porque me apercebi de que o busílis da questão, naquele momento, estava longe de ser a precocidade da F…

“Oh, F! Que cena triste... Mas, olha, tens que ser superior a essas coisas!”
“E se ela abre a boca, rebento-a toda!”- deduzi que a F se referisse à V.
“É claro que ela não vai dizer nada. Não a vês ali tão caladinha? ”
O J, membro do já referido grupo de apoio da F, sugere, lá do alto dos seus mui experientes catorze anos:
“Sabes o que é que tens que fazer, F? É dar ao desprezo! Dá ao desprezo que ele vem logo atrás de ti. É assim que eu faço. Nunca vou atrás de rapariga nenhuma e elas andam atrás de mim que nem doidas.”
Tive que suprimir um sorriso (de facto, uma gargalhada), enquanto paria a minha segunda constatação: as coisas que eu aprendo com estes miúdos! São verdadeiros mananciais de informação… Com 14 anos, note-se!

Bom, a F não ficou logo de feijão arreganhado, mas sei que segunda-feira já vai estar como nova. Se há uma coisa que os meus miúdos têm é uma capacidade de regeneração invejável. Segunda-feira o tal rapaz já será apenas uma vaga lembrança…